Com o objectivo de encontrar formas de liberdade, o blog
acabou por ser prisioneiro do vazio mais vezes do que as que deu asas a essa
minha ideia. O vazio acaba por ser Só uma consequência, mas uma consequência do
quê? Quem é o director da prisão onde o vazio é guarda prisional? Não comecei a
escrever de forma a encontrar respostas ou perguntas específicas, comecei impulsionado pela ideia de errar o suficiente para melhorar a forma de pensar e por
curiosidade. Esse possível túnel de fuga da prisão guardada pelo vazio, a
curiosidade ajuda na fuga mas para te manteres lá fora em muitos casos fica
curto e és apanhado. O princípio de reabilitação é regularmente esquecido, na verdade
estás a cumprir pena.
A ausência de liberdade aliada a experiências de
conhecimento pessoal, redefinem a tua existência. Condenado pelos limites ultrapassados,
limites esses que não foram inventados por ti, mais do que guias de acção
funcionam como vedações limitadoras próprias da existência em grupo. Vais
espreitando a liberdade quando te identificas com algo ou alguém mas isso não
chega para estares lá, vês ao longe nos intervalos no pátio, parece que podes
tocar mas estás longe. Violado nesta prisão pelo teu próprio reflexo, humilde e
humilhado, agora o desespero partilha a cela contigo. Não chegas a conhecer o
animal do director, só ouves falar. Lembras-te todos os dias é daquele que
consideras ter sido advogado de acusação do teu processo, a maneira como ele
manipulou as coisas e te fez sentir estúpido com algumas respostas que até
foste tu a dar, parecia que estavas a adivinhar mas mesmo assim alinhaste, como
um guião que já estava escrito. Às vezes o teu advogado de defesa parece estar
combinado com o da acusação, é o teu pior acusador e, num jogo viciado, foste
julgado por um júri que conheces muito bem, ou talvez pior do que achavas, mas
que influenciou decisivamente a tua vida e amanhã já nem se lembra do teu caso
porque a vida segue.
Mas quando a vida segue e tu não queres ou não consegues
acompanhar e ficas recluso na Instituição que é a rotina. A viver das visitas
que te lembram de como pode ser lá fora e alimentam a esperança de que uma
memória possa persistir e ser mais que isso, mas quando acaba a hora da visita
acaba também essa perspectiva. As precárias nas ocasiões especiais são a pior
parte, visitas essa projecção de ti próprio e dos teus, sem hipocrisias excessivas,
são do caraças esses dias enquanto acontecem, parece que respiras melhor.
Acabou a precária, hora de voltar para a realidade que agora faz questão de
doer duas vezes mais. Apercebes-te que foi uma festa isolada e que não é a
realidade, não recuperaste nada, perdeste mais um bocadinho de esperança e
pensando bem na festa alguns dos que lá estavam olharam de lado para ti e parece que já não
te vêm. Será preconceito ou medo inconsciente de que venha a acontecer o mesmo que
leva a um afastamento quase involuntário? De repente tens um novo companheiro de
sela, a paranóia.
Em mais um dia que já não tem nome nem número, só mais um
risco na parede, outro recluso distribui leituras para ajudar o tempo a passar,
lês o livro certo com a intenção errada. A meio és electrocutado e…Acordas!
Afinal estavas só a dormir, foi um sonho, não passou disso, está tudo ao teu
alcance, consegues respirar sozinho e és livre. Está tudo igual, nas tuas mãos
daqui para a frente, vamos a acordar que amanhã pode não ser sonho e o que
separa uma coisa da outra são detalhes. As tatuagens que existiam no sonho já
são memórias, o sonho todo ele uma memória, às vezes boa, às vezes má, mas é água
que estavas a tentar segurar nas mãos, água que já não mata a sede mas que
deixa as mãos molhadas para poderes passar pela cara e garantir que acordaste.
Para todos os que já tiveram a sua dose de advogadas e para
quem conheceu membros do júri como estes, não levem a mal...As advogadas só
estão a trabalhar e a fazerem o que sabem e os elementos do júri não se
ofereceram, foram escolhidos.