quarta-feira, 15 de julho de 2015

O meu último

Com o objectivo de encontrar formas de liberdade, o blog acabou por ser prisioneiro do vazio mais vezes do que as que deu asas a essa minha ideia. O vazio acaba por ser Só uma consequência, mas uma consequência do quê? Quem é o director da prisão onde o vazio é guarda prisional? Não comecei a escrever de forma a encontrar respostas ou perguntas específicas, comecei impulsionado pela ideia de errar o suficiente para melhorar a forma de pensar e por curiosidade. Esse possível túnel de fuga da prisão guardada pelo vazio, a curiosidade ajuda na fuga mas para te manteres lá fora em muitos casos fica curto e és apanhado. O princípio de reabilitação é regularmente esquecido, na verdade estás a cumprir pena.
A ausência de liberdade aliada a experiências de conhecimento pessoal, redefinem a tua existência. Condenado pelos limites ultrapassados, limites esses que não foram inventados por ti, mais do que guias de acção funcionam como vedações limitadoras próprias da existência em grupo. Vais espreitando a liberdade quando te identificas com algo ou alguém mas isso não chega para estares lá, vês ao longe nos intervalos no pátio, parece que podes tocar mas estás longe. Violado nesta prisão pelo teu próprio reflexo, humilde e humilhado, agora o desespero partilha a cela contigo. Não chegas a conhecer o animal do director, só ouves falar. Lembras-te todos os dias é daquele que consideras ter sido advogado de acusação do teu processo, a maneira como ele manipulou as coisas e te fez sentir estúpido com algumas respostas que até foste tu a dar, parecia que estavas a adivinhar mas mesmo assim alinhaste, como um guião que já estava escrito. Às vezes o teu advogado de defesa parece estar combinado com o da acusação, é o teu pior acusador e, num jogo viciado, foste julgado por um júri que conheces muito bem, ou talvez pior do que achavas, mas que influenciou decisivamente a tua vida e amanhã já nem se lembra do teu caso porque a vida segue.
Mas quando a vida segue e tu não queres ou não consegues acompanhar e ficas recluso na Instituição que é a rotina. A viver das visitas que te lembram de como pode ser lá fora e alimentam a esperança de que uma memória possa persistir e ser mais que isso, mas quando acaba a hora da visita acaba também essa perspectiva. As precárias nas ocasiões especiais são a pior parte, visitas essa projecção de ti próprio e dos teus, sem hipocrisias excessivas, são do caraças esses dias enquanto acontecem, parece que respiras melhor. Acabou a precária, hora de voltar para a realidade que agora faz questão de doer duas vezes mais. Apercebes-te que foi uma festa isolada e que não é a realidade, não recuperaste nada, perdeste mais um bocadinho de esperança e pensando bem na festa alguns dos que lá estavam olharam de lado para ti e parece que já não te vêm. Será preconceito ou medo inconsciente de que venha a acontecer o mesmo que leva a um afastamento quase involuntário? De repente tens um novo companheiro de sela, a paranóia.
Em mais um dia que já não tem nome nem número, só mais um risco na parede, outro recluso distribui leituras para ajudar o tempo a passar, lês o livro certo com a intenção errada. A meio és electrocutado e…Acordas! Afinal estavas só a dormir, foi um sonho, não passou disso, está tudo ao teu alcance, consegues respirar sozinho e és livre. Está tudo igual, nas tuas mãos daqui para a frente, vamos a acordar que amanhã pode não ser sonho e o que separa uma coisa da outra são detalhes. As tatuagens que existiam no sonho já são memórias, o sonho todo ele uma memória, às vezes boa, às vezes má, mas é água que estavas a tentar segurar nas mãos, água que já não mata a sede mas que deixa as mãos molhadas para poderes passar pela cara e garantir que acordaste.

Para todos os que já tiveram a sua dose de advogadas e para quem conheceu membros do júri como estes, não levem a mal...As advogadas só estão a trabalhar e a fazerem o que sabem e os elementos do júri não se ofereceram, foram escolhidos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O Tanaka e o Carocho

Numa semana de vida dura, embora dura seja a vida do Carocho, dois indivíduos tão afastados de mim como qualquer um de vocês alumiaram o breu que resolveu habitar em mim recentemente, sem qualquer autorização prévia, e sem qualquer explicação que se preze.
Vou começar pelo Tanaka, jogador do Sporting, o meu clube. Ok é futebol, mas quem gosta de futebol sabe bem o prazer de ganhar no último minuto, é raríssimo e extremamente vibrante. O herói neste caso, foi o improvável Tanaka. Por gozo e por feeling durante o início da 2ª parte mandei mensagem a um amigo sportinguista a dizer "hoje é Tanaka aos 90". E aconteceu. Mas já mandei 100 bujardas destas em que nunca acertei. O que mais apreciei no facto de ter sido o bombardeiro japonês a marcar o golo da vitória foi o facto de desde que chegou ao Sporting me parecer um jogador bem formado, modesto, afável, com um carisma tranquilo e discreto.
Agora salto para o Carocho, a denominação em si possivelmente ofensiva, mas só tenho elogios a fazer à pessoa em questão, um arrumador da zona onde vivo que tive o privilégio de conhecer no fim-de-semana passado. Vinha eu de casa da minha mãe depois de um almoço familiar, quando me deparei com uma dificuldade extrema em estacionar, e em 20 minutos tinha que me pôr na primeira sessão de um curso de meditação e já estava à rasca. Eis que passo por um lugar sinalizado por um arrumador. Quando vou a fazer a manobra para estacionar ocorre-me que não tinha dinheiro. Ainda a meio da manobra abro o vidro e digo em vernáculo "tuga" "caga, não tenho guita". Resposta pronta do Carocho "Então, achas que não vais arrumar o carro por causa disso, estaciona", enquanto executava a mímica inerente à função. Eu, surpreendido com a atitude, agradeci, e perguntei-lhe até que horas ele ia andar por aquela zona. Ele respondeu 7 horas. E eu disse "eu moro aqui na zona, vou ao ginásio (não sei explicar porquê mas senti constrangimento em dizer que ia para um curso de meditação) e quando voltar dou-te alguma cena", ao que ele novamente com prontidão respondeu "achas, não há problema, esquece isso". De referir que ao longo da curta conversa ele me chamou irmão por 3 ou 4 vezes. Quando voltei ao final da tarde não o encontrei. Domingo voltei a não o encontrar. Na segunda já a sensação de agradecimento se tinha desvanecido, já estava de volta às minhas trevas e até o vi quando estava a chegar o trabalho, mas decidi vir logo para casa e sair de seguida. Mas terça, voltei a ter clarividência. Tinha novamente que deixar as coisas em casa e sair rapidamente, mas pensei "que tipo de merdas sou eu se ando sempre a criticar os corruptos, os superficiais, os ensimesmados, se ando sempre a pensar em fazer qualquer coisa para ajudar (normalmente este pensamento\sensação é de uma abstracção atroz a roçar a hipocrisia moralista) e acabo por nunca fazer nada de concreto. Peguei em mim, e fui até à rua ter com ele e perguntei "lembras-te de mim? deixaste-me estacionar no fim-de-semana e não te dei nada por não ter dinheiro" e mais uma vez "sim irmão, tranquilo na boa". Dei-lhe 2 euros, perguntei se fumava, dei-lhe 2 cigarros. Ao qual ele reagiu "eia irmão não era preciso" e eu "era era, por tu seres assim é que mereces mais. "Boa sorte e força nisso" continuei. Retorquindo ele "Para ti também irmão" disse o professor ao aluno. Disse o homem ao carocho.




PS: Já reflecti sobre o texto e sobre a parte que me coube na atitude que tive, que foi essencialmente reactiva, logo desprovida da qualidade de mérito que a iniciativa sempre contém. E ainda não me consegui perceber; se a atitude que tive foi mais para me sentir melhor comigo mesmo, ou se sou realmente mais boa pessoa que má pessoa. E se o texto que escrevo é mais para mostrar-vos (e mostrar a mim próprio) que há pessoas que nos podem surpreender pela positiva, para influenciar comportamentos positivos e bondosos ou se serve mais para mostrar que pratiquei uma boa acção (e mais uma vez me sentir melhor comigo mesmo). Peço desculpa pelo recurso abusivo neste último parágrafo do "mais" "mais". Poluí um bocado o texto, mas o objectivo foi jogar com dualidades que não se excluíssem, porque por mais solidariedade que tenhamos, por mais bondade que tenhamos, em última instância ajudar consiste em sentirmo-nos bem connosco. Copo meio cheio ou meio vazio seria o resultado final do raciocínio. Nesta deambulação, ao minuto 90 careci de um Tanaka. Vou para a cama com um empate.

    Votos de uma boa noite

Non Tchuche

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Texto 4minutos II

Eva: Olha este miúdo estupido que me esta a irritar e a obrigar a fazer esta cena que eu não quero.

DN: A Eva* não quer cooperar comigo nesta ideia.
A dificuldade associada a expormo-nos a coisas novas não pára de me surpreender, distrair uma pessoa enquanto escrve, nas raras vezes que ofaz, é crime!! Recuperando a ideia do receio de falharmos, quando falhar é não tentar na maior parte das vezes, que processos de formatação nos constrangem desta forma? É natural nos seres vivos? Não me lembro da última rapoZa envergonhada que vi, uma bvaleia a corar um leão a gaguejar com os nervos…Nada.
Ainda assim, a Eva tem receio de não escrever o texto perfeito, sem moral para grandes considerações, afinal de contas eu não canto em karaokes pela mesma razão, ou falta dela.
Ano novo vida nova. Ou não. Vamos ver.
·         A escolha do nome, foi um processo completamente aleatório, em que a “Eva” escolheu ser a “Eva”, quando na realidade a sorte ditou que ia ser a Adelaide.

Uma nova tentativa de não controlar o texto aproximadamente durante 4 minutos sem apagar muito.

DN


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Algo

Este texto serve para expressar a minha estupefacção, choque, indignação, revolta acerca do atentado terrorista que hoje vitimou 12 pessoas, na sua maioria jornalistas, na redacção do jornal satírico Charlie Hebdo em Paris, conhecido pelas suas capas estrondosas de paródia ao extremismo islâmico, a políticos franceses, ao "extremismo" judaico, entre outros.
Quando algo tão trágico acontece, pomos tudo em perspectiva, de um lado o pinball acéfalo da rotina, do outro o insustentável lastro da perda. Por momentos, aquela discussão, aquela  insegurança, aquela ofensa, aquela preguiça, aquilo a que eu chamo das nossas magnas ninharias, tornam-se ridículas, e ínfimas, Pouco depois, a sensação passa e voltamos à nossa vidinha com a mesma atitude de sempre.
Esta é mais uma ferida aberta numa humanidade com uma noção discutível do bem e do mal, dos limites. É um mundo com uma hemorragia contínua de valores, com metástases capitalistas, um desrespeito pela vida humana atroz, o individualismo no seu apogeu.

Concluo dizendo que estes animais que de forma arbitrária destruíram uma ramificação de vidas com um número bastante superior a 12, quando forem achados provavelmente não se renderão e morrerão, o que na minha opinião terá um sabor a injustiça, pois deveriam viver encarcerados o resto da vida,
Presto a minha homenagem às vítimas deste atentado com este texto e com os meus pensamentos.


Jusqu'à ce que jamais

Ano novo, Vida nova

Após uma longa ausência (o último post data de 10 de junho), volto, desta feita, para "valer", comprometendo-me a não escrever mais no blogue se um outro desaparecimento desta monta voltar a suceder.
Posto isto, espero que estejam todos bem, ou pelo menos que estejam a fazer por isso. Neste interregno perdemos um dos nossos leitores mais assíduos, o ex-primeiro-ministro José Sócrates. Restam 3, a fazer lembrar os jogos do Leiria na 1ª liga.
O bloque em breve poderá sofrer algumas alterações gráficas, e também faz parte dos nossos objectivos variar o conteúdo, de sem rumo para um pouco de tudo. À primeira vista parecerá que estou a falar de farinha do mesmo saco, mas é mais um sortido de biscoitos ( não, não consumo drogas, e por utilizar a palavra biscoito sublinho que sou heterossexual, pois depois de ter escrito biscoitos já só estava a imaginar o Bruno Nogueira aqui à volta "ai que panisga, é o biscoitinho é?". Biscoito é de homem, então e o molhar o biscoito do Gabriel o Pensador?

Caríssimos: desejo-vos um ano tão bom como o que eu vou ter. Se após lerem alguns textos deste blogue se identificarem de alguma forma e tiverem vontade de participar manifestem-se.


Beijos e Abraços 
The Tchuchatov

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Não pensei nisso

Um golo quando o otimista já tinha decidido que não era dia para si, a terra dos irmãos Laudrup a levar um choque de realidade. Metáfora de uma vida que por vezes parece mais uma representação de um caso de síndrome de Estocolmo em que no papel de agressora, a vida, num pequeno gesto de consideração no meio de maus tratos cria uma magia digna da persistência das próximas provações. Como a magia, esta excepção tem truque…
Mais um golo do melhor do mundo, o exemplo vivo de alguém que trabalhou no limite das suas capacidades na área que ama e que triunfou. Maldição ou benção, o atraso de vários anos em relação ao mundo, traz agora o sonho português. Trabalha ao máximo e conquista o mundo além fronteiras, o sonho português é grande demais para se manifestar “SÓ” em Portugal, os navegadores não descobriram boas praias em Portugal, mas sim o não explorado na vastidão do globo. Deviam criar uma série como os “Vikings” mas da Época dos descobrimentos, se fosse feita com uma fotografia semelhante os relatos sobre o nosso enredo em princípio até batem os Vikings…Mas para outro texto…
Neste texto comecei a andar com o carro sem destino, pensei voltar atrás quando parei para por gasolina ou quando percebi que a emoção e a memória não se criam em 5 minutos…Vou continuar a andar, numa incursão contra a apatia e é aí que te descobres. Quando a apatia deixou de ser solução, quando a previsibilidade deixou de ser segurança e passa a ser uma comichão, aí começas a esticar as tuas formas e começas a ver qualquer coisa. O medo desse “qualquer coisa” ser alguma coisa de embaraçoso ou de não ser normal e aceite também condiciona, mas quando pensas - que se foda e vais –Uma vez, duas, perdes a conta e não pensas que se foda, mas simplesmente não pensas para além da tua visão isso és tu e este texto também sou eu.



DN

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Desenvolver um texto em quatro minutos

Estou a tentar uma ideia nova, seguramente vou tentar outras vezes, resumidamente é:
 Num tempo limite (a definir pelo próprio) começar a escrever sobre qualquer coisa que te apeteça e não perder grande tempo a corrigir, porque vai roubar tempo da escrita e contrariar o objectivo. Tentar um texto tão puro quanto possível e perceber para onde é que vai a tua criatividade. Uma espécie de improviso em estilo livre, mas na escrita.
Neste primeiro ensaio fui pelo seguro e é mais descritivo do que livre:

"Este texto é uma experiência, consiste em durante quatro minutos
escrever sobre qualquer coisa que esteja a pensar sem rever frases ou
reorganizar ideias.
Acabo de chegar do novo ritual da hora de almoço, phones com ele, à
janela com a janela aberta a aproveitar este dia de sol que se perdeu
e veio aqui parar à zona dos dias frios. Em pleno Outono tenho passado
a hora de almoço com o Luís Sepúlveda. Temos uma conversa silenciosa
que ele não sabe que teve e que eu nunca antecipo como acontece.
Voltei agora a funções ainda com o bálsamo das grandes ideias no peito
a engolir golfadas de ar puro enquanto volto para a falta de ar que
são as pequenas preocupações, como ter dinheiro..."


DN